CORREIO DA TARDE - 27/dez/2008
Repórter: Ramilla Souza
Repórter: Ramilla Souza
No último dia 14 de novembro, os jornais de Natal veicularam a notícia de cidadãos comuns tentando impedir o corte de árvores em um bosque no bairro de Capim Macio. O assunto chamou a atenção, principalmente, pelas imagens que mostravam uma garota agarrada a um tronco de Ipê Roxo, no momento em que o Disk Motoserra contratado pela Prefeitura tentava derrubá-lo.
Desse protesto nasceu o SOS Capim Macio, inspirado no formato de um movimento anterior, o SOS Ponta Negra, fundado pelo jornalista Yuno Silva.
O ato isolado pode até parecer engraçado, mas o que se há de notar é o aparecimento, em Natal, dessas pessoas que se "dão ao trabalho" de abraçar árvores, participar de audiências públicas e reunir centenas de pessoas para protestar em prol de um bem coletivo como o é o meio ambiente. Não se trata mais de uma "discussão romântica", como exemplifica o fundador do pioneiro Pró-Pitimbú, o engenheiro civil Kalazans Bezerra.
O tempo dos "ecochatos" já passou. O que se vê hoje em dia, aqui mesmo na capital potiguar, são pessoas que não tem qualquer relação com a política tentando impedir que a cidade se esqueça do meio ambiente e fazendo propostas plausíveis para o crescimento urbano, sim, mas ecologicamente sustentável.
É claro que esse não é um movimento que começou ontem. A ONG Amigos da Natureza, da qual faz parte o arquiteto urbanista, Francisco Iglesias, existe em Natal desde 1985. Já nessa época seus 46 fundadores levantaram a questão da praia de Galinhos, que teve dois mil e 400 hectares de mangue destruído (o equivalente a dois Parques das Dunas).
Foram feitos panfletos, denúncias, protestos e enviadas cartas a autoridades. O problema era a repercussão. A atenção dada ao que era feito pelo ambientalistas era mínima por parte da imprensa, da população e, que dirá, das autoridades. O marco da mudança (ainda pequena) dessa atitude foi, sem dúvida, o SOS Ponta Negra.
Visão diferenciada
Foi prestando atenção que Yuno Silva ajudou a impedir a construção de prédios na região do Morro do Careca, em 2006. O jornalista lia uma revista de imóveis de baixa veiculação quando se deparou com o anúncio de uma futura construção ao lado do ponto turístico, já licenciada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb).
Apesar de existir uma lei que impedisse um projeto como esse naquela área, segundo o próprio Yuno, ela não era muito clara: "Existe espécie de linha imaginária que corta a Vila de Ponta Negra e deveria encostar no Morro mas, em vez disso, ela atravessava ele", explica.
Depois da descoberta, foram 20 dias pesquisando para montar um blog e decidindo se comprava ou não aquela briga. "O poder econômico tem muita influência nos meios de comunicação. Eu sabia que ia acabar ficando sem propostas de emprego", revela Yuno. Ele trabalhava como jornalista e produtor free-lancer. A decisão foi tomada e o www.sospontanegra.blogspot.com está no ar até hoje, colocando em pauta assuntos como a Operação Impacto ou seminários que discutam a sustentabilidade.
A primeira reunião do SOS contou com seis pessoas. Na segunda já foram 30; na terceira, 80; na quarta, 300 e na quinta, 2000, esta última já com o apoio da Prefeitura do Natal. Da Internet o movimento pulou para as páginas dos jornais e para o conhecimento da população em geral e do próprio prefeito da cidade, que, segundo Silva, não sabia do empreendimento colado ao Morro do Careca. "Fizemos uma enquete com as pessoas conhecidas e constatamos que ninguém tinha ouvido falar desse projeto", revela Yuno.
Como resultado, hoje não se vê prédio nenhum ao lado do Morro e a população e imprensa também passaram a ficar mais atentas em relação ao depredamento ambiental. É claro que o SOS veio num momento propício, em que a consciência em relação à natureza está "na moda". "A partir disso as pessoas começaram a ficar mais atentas à área não edificante de Natal. Mesmo com o movimento tendo saído da mídia nós ficamos atentos em receber denúncias pelo telefone", conta Silva. E recebem mesmo. Segundo ele, até denúncia de cachorros sendo maltratados são feitas ao SOS Ponta Negra.
Os novos guardiões
Da idéia lançada em agosto de 2006 vieram novas sementes. Dois anos depois surgia o SOS Capim Macio, nascido de súbito e questionando o projeto da obra que é um dos carros-chefe da administração do atual prefeito de Natal. A jovem que se abraçada ao Ipê era Joanisa Prates, 23 anos, que junto a outros moradores do bairro colocou em pauta a drenagem sustentável.
"Eu também moro em Capim Macio e sei o quanto é difícil quando as ruas ficam alagadas, mas fazer essa drenagem de qualquer jeito não vale a pena. Nós não somos contra, somos a favor de um desenvolvimento sustentável", argumenta a estudante.
Desse protesto nasceu o SOS Capim Macio, inspirado no formato de um movimento anterior, o SOS Ponta Negra, fundado pelo jornalista Yuno Silva.
O ato isolado pode até parecer engraçado, mas o que se há de notar é o aparecimento, em Natal, dessas pessoas que se "dão ao trabalho" de abraçar árvores, participar de audiências públicas e reunir centenas de pessoas para protestar em prol de um bem coletivo como o é o meio ambiente. Não se trata mais de uma "discussão romântica", como exemplifica o fundador do pioneiro Pró-Pitimbú, o engenheiro civil Kalazans Bezerra.
O tempo dos "ecochatos" já passou. O que se vê hoje em dia, aqui mesmo na capital potiguar, são pessoas que não tem qualquer relação com a política tentando impedir que a cidade se esqueça do meio ambiente e fazendo propostas plausíveis para o crescimento urbano, sim, mas ecologicamente sustentável.
É claro que esse não é um movimento que começou ontem. A ONG Amigos da Natureza, da qual faz parte o arquiteto urbanista, Francisco Iglesias, existe em Natal desde 1985. Já nessa época seus 46 fundadores levantaram a questão da praia de Galinhos, que teve dois mil e 400 hectares de mangue destruído (o equivalente a dois Parques das Dunas).
Foram feitos panfletos, denúncias, protestos e enviadas cartas a autoridades. O problema era a repercussão. A atenção dada ao que era feito pelo ambientalistas era mínima por parte da imprensa, da população e, que dirá, das autoridades. O marco da mudança (ainda pequena) dessa atitude foi, sem dúvida, o SOS Ponta Negra.
Visão diferenciada
Foi prestando atenção que Yuno Silva ajudou a impedir a construção de prédios na região do Morro do Careca, em 2006. O jornalista lia uma revista de imóveis de baixa veiculação quando se deparou com o anúncio de uma futura construção ao lado do ponto turístico, já licenciada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb).
Apesar de existir uma lei que impedisse um projeto como esse naquela área, segundo o próprio Yuno, ela não era muito clara: "Existe espécie de linha imaginária que corta a Vila de Ponta Negra e deveria encostar no Morro mas, em vez disso, ela atravessava ele", explica.
Depois da descoberta, foram 20 dias pesquisando para montar um blog e decidindo se comprava ou não aquela briga. "O poder econômico tem muita influência nos meios de comunicação. Eu sabia que ia acabar ficando sem propostas de emprego", revela Yuno. Ele trabalhava como jornalista e produtor free-lancer. A decisão foi tomada e o www.sospontanegra.blogspot.com está no ar até hoje, colocando em pauta assuntos como a Operação Impacto ou seminários que discutam a sustentabilidade.
A primeira reunião do SOS contou com seis pessoas. Na segunda já foram 30; na terceira, 80; na quarta, 300 e na quinta, 2000, esta última já com o apoio da Prefeitura do Natal. Da Internet o movimento pulou para as páginas dos jornais e para o conhecimento da população em geral e do próprio prefeito da cidade, que, segundo Silva, não sabia do empreendimento colado ao Morro do Careca. "Fizemos uma enquete com as pessoas conhecidas e constatamos que ninguém tinha ouvido falar desse projeto", revela Yuno.
Como resultado, hoje não se vê prédio nenhum ao lado do Morro e a população e imprensa também passaram a ficar mais atentas em relação ao depredamento ambiental. É claro que o SOS veio num momento propício, em que a consciência em relação à natureza está "na moda". "A partir disso as pessoas começaram a ficar mais atentas à área não edificante de Natal. Mesmo com o movimento tendo saído da mídia nós ficamos atentos em receber denúncias pelo telefone", conta Silva. E recebem mesmo. Segundo ele, até denúncia de cachorros sendo maltratados são feitas ao SOS Ponta Negra.
Os novos guardiões
Da idéia lançada em agosto de 2006 vieram novas sementes. Dois anos depois surgia o SOS Capim Macio, nascido de súbito e questionando o projeto da obra que é um dos carros-chefe da administração do atual prefeito de Natal. A jovem que se abraçada ao Ipê era Joanisa Prates, 23 anos, que junto a outros moradores do bairro colocou em pauta a drenagem sustentável.
"Eu também moro em Capim Macio e sei o quanto é difícil quando as ruas ficam alagadas, mas fazer essa drenagem de qualquer jeito não vale a pena. Nós não somos contra, somos a favor de um desenvolvimento sustentável", argumenta a estudante.